domingo, 30 de maio de 2021

Preconceito Linguístico em Moçambique



Moçambique é um país cultural e liguisticamente diversificado. No nosso país são faladas mais de 20 línguas sendo o português a língua oficial. É dentro dessa diversidade linguística que surge o preconceito linguístico.

Preconceito linguístico é uma forma de discriminação social que consiste em julgar o indivíduo pela forma como se comunica, seja oralmente ou de forma escrita. E é sobre o preconceito linguístico em torno das línguas nacionais moçambicanas que iremos falar.

A língua portuguesa é a língua oficial adoptada pelo governo moçambicano de forma a criar uma "unidade nacional" devido às várias línguas Bantu faladas no país. Porém, o português só é tido como língua materna apenas por 18% da população nacional. Apesar da língua não ser falada pela maioria, ainda assim ela ocupa um lugar de prestígio na sociedade. Em outras palavras, quem não fala português ou fala mal sofre descriminação ou exclusão por parte da sociedade.

Mas como surgiu esse preconceito?
Segundo estudiosos, o preconceito pelas línguas moçambicanas surgiu com a chegada da colonização portuguesa. Os portugueses, depois de dominar o território, estabeleceram a política de assimilação. Ou seja, todo aquele que quisesse ser considerado "civilizado" e ter acesso a vários privilégios na época, teria de negar a sua língua, cultura, religião e outras coisas mais. Foi por causa desta política discriminatória que muitos moçambicanos passaram a ter vergonha de falar as suas línguas.

Na época, os colonizadores tratavam as línguas dos povos nativos como "línguas de cães" e era proibido falá-las em locais públicos. E de geração em geração muitos moçambicanos ficaram com essa ideia no seu subconsciente de que suas línguas eram inferiores ao português ou qualquer outra língua de origem europeia. Findo o colonialismo, este preconceito perdura até aos dias actuais.

Peguemos o exemplo de Maputo. As línguas dominantes são o Ronga e o Changana, que são maioritariamente faladas nas zonas suburbanas e rurais. Um falante do Ronga/Changana por exemplo, vai se sentir com vergonha de falar a língua na cidade e locais públicos porque muitas pessoas pensam que quem fala estas línguas é uma pessoa sem educação, sem modos e não "civilizada", resumindo, é uma pessoa "baixa" como se diz popularmente. E por mais incrível que pareça as pessoas que têm esse preconceito na sua maioria fala mal português e/ou têm com língua materna uma língua moçambicana. Ou seja, o moçambicano já fala mal o português (e acredita que fala bem kkkk) e para piorar é preconceituoso com quem não fala ou fala mal também. Enfim, o moçambicano.

Muitos dos nossos pais e avós falam estas línguas porém não as ensinam aos seus filhos. Muitos os proíbem de falá-las e até há pais que nem querem ver os seus filhos expostos ou inseridos em ambientes onde essas línguas são faladas. E o resultado deste preconceito é uma geração que não sabe falar as línguas da sua cultura; que valoriza as línguas e cultura do ocidente, o que de certa forma é lamentável. 

Mas então o que fazer para acabar com este preconceito?
Felizmente o governo nos últimos anos tem adoptado políticas de forma a valorizar às línguas nacionais. Eles introduziram o Ensino Bilingue, onde as crianças que não sabem falar português são alfabetizadas nas suas línguas locais, e este método tem surtido muitos bons resultados. Seria melhor ainda se estas línguas fossem introduzidas nas escolas como disciplinas curriculares em algumas classes. Quanto a "nós outros" aqui vai a dica: Aos pais, deixem o preconceito de lado, falem e ensinem as vossas línguas aos vossos filhos, ensinem-os a gostar e a se orgulhar das mesmas; Aos que sabem falar, falem mas falem mesmo, em todo lugar a todo momento (olha a publicidade kkk), não tenham vergonha, não finjam que não sabem e ensinem a vossos filhos! Aos que não sabem, aprendam! Não perdem nada, pelo contrário ganham bons descontos nos mercados e boas fofocas kkkkkkk; Aos media e artistas invistam mais em conteúdos na língua local e só assim a cultura sairá a ganhar.

Há muito ainda a se falar sobre este tema e como combater este preconceito. Frisar que NÃO É ERRADO NEM MAU que aprendamos ou falemos português, inglês ou qualquer outra língua estrangeira, pois é graças a elas que nos comunicamos com o mundo e temos muitas oportunidades. Mas também é importante que valorizemos o que é nosso e não deixemos que nossas línguas morram, pois língua é cultura e um país sem cultura é um país sem futuro.

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